Minha historia com os espíritos da noite
Eu, quando Te conheci, tinha apenas treze anos de idade. Não
acreditava em nada. Só queria uma aventura. Queria ser um bruxo, um mago,
um feiticeiro, quem sabe o que, no mundo de ilusão em que eu vivia. E ao
mesmo tempo ficava pensando: Quem és Tu? De onde vens?
Aos poucos você foi se aproximando. Éramos duas crianças com
medo um do outro. Com medo de se comunicar, de se ver, de se tocar.
Com o passar dos anos fomos nos conhecendo. Cada dia mais a
criança crescia. E nós dois nos desenvolvíamos mentalmente.
Eu tinha dezoito anos quando tivemos nossa primeira briga. Vos
(Te) chamei de demônio, espírito sem luz. Eu ficava pensando: Por que não me
atendias? Por que não me escutavas? Pois chegavas à frente dos outros
espíritos e eles me escutavam. Em assim briguei Contigo, sem deixar que
desses uma explicação. Mas eu era jovem. E como todo jovem, agi sem saber
e sem compreender. Passando alguns meses, tentei me reconciliar. E Vós,
como sempre, estava disposto a me perdoar, como um grande amigo e
companheiro. Casei-me, constitui família e tu estavas sempre ao meu lado,
nos momentos mais felizes da minha vida. Mas por ironia do destino, as
provações vieram e eu perdi minha filha. Mais uma vez agi sob impulsos.
Peguei todas as Tuas coisas e levei embora da minha casa. Disseram-me que
era coisa do diabo. Que por isso minha filha tinha partido. Mas, no fundo, eu
sabia que não era. Contudo, fiz o que as pessoas mandaram eu fazer. Levei
todos os Teus pertences, coloquei em um caminhão, levei bem longe da minha
casa e enterrei. Caí em um mar de lodo. Em uma escuridão total. E pensava
dia e noite no que estava se passando em minha vida. Por isso tudo estava
acontecendo? Cadê o Deus que tanto falam? Que me deixou passar fome e
desgraça em minha vida? Então, eu vi meu amigo. Quando tu estavas do meu
lado, eu nunca havia passado fome nem nunca havia estado sozinho. Então
compreendi que um amigo não se põe fora. Levantei-me e fui buscar, e tentar
encontrar novamente meu amigo onde eu o deixara. Saí a pé pelo caminho da
vida. Sozinho e pensando no que eu Vos diria pelo ato terrível que lhe fiz. Ao
chegar lá, procurei por vós, mas já não estavas, nem vossos pertences. Só
havia lixo que os humanos haviam depositado lá. Lembrei-me que havia
enterrado um de vossos pertences mais preciosos. Cavei e vi que estava lá
ainda. Enrolei em minha camisa e levei de volta para casa. Ao chegar em casa,
minha companheira, que já não era mais vossa devota, brigou comigo e xingou.
Eu tentei explicar para ela que precisava resgatar meu amigo de volta, mas
mesmo assim não te encontrava. Chamava-te, gritava Teu nome. Onde Tu
estavas meu amigo dos caminhos que sempre me acompanhou? Havia me
abandonado de vez? Pensei: o que de tão terrível eu fiz que para que
perdesse um amigo tão fiel?
Passaram-se alguns anos e retornei a minha cidade natal e
continuei minha busca infalível. Nessa busca, certo dia eu, desesperado,
caminhando à noite pela rua, passei em frente a uma casa. E lá estava um
companheiro vosso. Ele me chamou e me contou tudo o que havia se passado
em minha vida até aquele momento. E perguntou se eu queria ficar ali e ter
ele como amigo. Olhei para aquele homem tão estranho: um homem num corpo
de mulher. Rindo de toda a desgraça que havia se passado em minha vida. Sou
agredido e assaltado. E volto a me perguntar: O que se passa? Onde está o
Deus que deixa tantas coisas ruins acontecerem em minha vida? Acabei indo
para num hospital, pois no assalto, quebraram uma garrafa no meu rosto e
achei que fosse perder a visão. Na mesa de cirurgia estou irado. Penso que
ficarei deformado. Lembro do meu Amigo e das coisas terríveis que fiz para
Ele.
No dia seguinte, já em casa, penso que preciso fazer algo para
me redimir com meu amigo. Pois quando ele estava do meu lado nada de ruim
acontecia em minha vida. Porque ele sempre falava para mim. Ruis são os
homens que não compreendem a beleza da vida e estão sempre querendo
destruir uns aos outros.
A minha caminhada continua. Retorno àquela rua onde estava o
homem no corpo de uma mulher. Entro na casa desse homem e pergunto: por
que tudo isso acontece? Ele me chamou e disse: "meu filho, estou por ordem
de um amigo para te ajudar e te encaminhar. Então compreendi que o meu
amigo não estava tão bravo comigo. Ele simplesmente estava do meu lado.
Mas como eu não conseguia me comunicar, sentir a presença Dele, eu estava
atraindo as coisas ruins para o meu lado. Pois no dia do assalto era para eu
ter morrido e ele me salvou, colocando pessoas para me ajudar.
Começo novamente minha caminhada, sempre pedindo que ele
volte a falar comigo. Mas eu não ouvia nem sentia a presença dele.
Separei-me e casei-me novamente com outra moça. Com essa
nova companheira constitui família. No dia em que ela estava dando à luz
minha filha, senti uma presença no corredor do hospital. Eu estava acocado.
"Seria aquele homem no corpo de uma mulher? Não! Era meu Amigo que
estava ao meu lado mais uma vez. Era meu amigo que iria me acalmar e dizer
que tudo correria bem. Que não era para eu ter medo. Que ele estava ali, do
meu lado. Que eu não me sentiria mais sozinho e nem desprotegido, pois ele
sempre estaria do meu lado, como sempre esteve. Daquele momento em
diante, minha vida estava completa, pois meu amigo estava de volta comigo.
Perguntei a ele por que tudo aquilo havia se passado em minha vida. E ele me
disse que o livro da vida tudo está escrito. Que o que vai acontecer depende
da gente tentar desviar ou modificar, mas muitas coisas da minha vida ele
não conseguiu mudar, pois eu não havia tido fé o suficiente para mudar, pois
ainda lembrava a perda da minha filha. Então compreendi que os nossos
amigos espirituais estão sempre do nosso lado. Depende da gente acreditar
neles, pois nós damos força para eles mudarem nossos destinos. Retornei
para casa com uma filha linda. Estava superando a perda de minha filha. Mais
uma vez o livro da vida me prega uma peça. Mas dessa vez eu não estava
sozinho. Estava com meu amigo do meu lado.
Sofri um acidente de moto. Os médicos queriam amputar minha
perna. Minha mãe ficou desesperada. A minha companheira também, chegou
até a desmaiar. Enquanto minha mãe conversava com o médico na sala ao lado
e eu esperava a cirurgia e perguntava: Meu amigo, onde tu estás? O que
aconteceu de novo?"Então, entra na sala um jovem rapaz. Olhei para ele e
pensei: como é jovem esse médico. Perguntei seu nome e ele respondeu: -
Marcelo. Ele perguntou o que havia acontecido. Eu disse que tinha sofrido um
acidente de moto. Na sala ao lado, o médico e minha mãe conversavam sobre
a amputação de minha perna. O jovem médico me disse: “Deixe-me olhar sua
perna. Meu pé caiu. Olhei assustado. O jovem médico olhou para mim e riu.
“Vou ver o que posso fazer." Ele costurou o meu pé nervo por nervo. Depois
de costurado, virou as costas e saiu da sala. Logo em seguida chegaram o
outro médico e minha mãe. O médico olha assustado e diz: Quem fez isso.
Não poderia acontecer. A perna tinha que ser amputada. Minha mãe
pergunta: quem fez isso, meu filho? Eu falei: mãe, entrou um jovem rapaz
dizendo que era médico e pediu para ver minha perna.. E fez a cirurgia. E
disse que eu não perderia a minha perna. Achei que fosse mesmo um médico
do hospital. Então, descobri que era meu amigo que havia encaminhado ali um
médico para salvar a minha perna. Então nisso, minha mãe me levou para casa
por que o outro médico queria retirar minha perna costurada. Chegando em
casa, parei perto do altar onde estava meu amigo e agradeci, pois ele não
conseguiu desviar o acidente porque era destino, mas conseguiu evitar que eu
ficasse aleijado, evitando que minha perna fosse amputada. E isso eu
agradeço sempre por estar andando. Com isso o tempo vai passando e eu e
meu amigo vamos crescendo espiritualmente. Vou aprendendo muito com meu
amigo. Passam muitas pessoas pela minha vida. Com todos os tipos de
problema. Passam amigos, passam familiares. E o meu Amigo sempre do meu
lado. M e acompanhando e me aconselhando. Mostrando para mim que as
coisas não são fáceis e nem tudo que queremos é possível. Que nem todas as
pessoas são amigas. E eu pergunto para ele por que me sinto tão só. E ele me
diz: tu nunca estás só. E lembre sempre que eu sou seu pai, seu irmão, seu
amigo e seu filho. Eu perguntei: "Mas como?" E ele me explicou: "sou seu pai,
para quando você fizer algo errado te chamar a atenção, mas sem te
desampara. Sou seu irmão, pois somos filhos do mesmo pai. Sou seu amigo,
pois estou sempre ao teu lado para te escutar e conversar contigo. E sou seu
filho, pois dependo de ti para estar aqui. Então, entendi tudo. Que os seres
espirituais estão sempre do nosso lado basta que nós saibamos compreendêlos.
Meus amigos espirituais me deram uma surpresa. Separei-me
mais uma vez e casei-me novamente com uma moça que já tinha filhos. E havia
uma bebezinha linda, de apenas dois meses. E o que descobri quando peguei
no colo essa bebezinha linda, é que era minha filha que havia retornado a
mim. Que os meus amigos espirituais haviam me dado a felicidade plena
novamente, pois agora estou casado com essa moça maravilhosa. Já se
passaram onze anos e estou muito feliz e completo realmente por ter
construído uma família e ter encontrado minha filha de volta. Nesse espaço
de tempo tive mais duas filhas lindas. Pois quando se tem fé, todas as portas
da felicidade se abrem. E sei mais do que nunca que os espíritos da noite
amam quando você está amando. Eles sofrem quando você está sofrendo. E
eles riem quando voce está rindo. E eles ficam felizes com a nossa felicidade.
Caro irmão, ame suas entidades, ame os espíritos da noite
porque eles são muito lindos. Não são demônios, nem estão aqui para destruir
e sim para nos ajudar a crescer espiritualmente. E pode ter certeza que eles
os amam como voces os amam.
Agradeço a todos os meus amigos espirituais que me
acompanham até hoje e me acompanharam sempre por me deixarem escrever
esse livro em homenagem a eles, ao Sr. Exu Bará da Rua, Sr. Exu Mor, a Sra.
Maria Padilha das Almas e ao Seu Caveirinha e ao meu Grande Senhor
Maioral. Sem eles nada seria possivel na minha vida
Depoimento do autor:
Nenhum comentário:
Postar um comentário